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sexta-feira, 16 de março de 2012

Minha entrevista à Adriana Lage da REDE SACI da Universidade de São Paulo

http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=33940

Falando sobre dança com Soyane Vargas

Rede SACI
Belo Horizonte-MG, 16/03/2012

O texto de hoje fala sobre dança, uma das coisas mais gostosas dessa vida

Adriana Lage
O texto de hoje fala sobre dança. Uma das coisas mais gostosas dessa vida. Como cadeirante, sinto falta de poder dançar um forrozinho. Acho muito legal. Imagino que dançar seja mais ou menos como flutuar, estar apaixonada, sentir nossos pés saírem do chão. Ganhar asas e voar muito além do horizonte. Ainda não tive a oportunidade de fazer uma aula de dança, mas, em breve, pretendo experimentar essa sensação que deve ser única. Não é à toa que a dança em cadeira de rodas está entre os esportes paraolímpicos. Para falar um pouco sobre os benefícios da dança, conversei com a professora de educação física Soyane Vargas. Ela mora em Niterói/RJ e é mestre em educação, na linha de educação especial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Vamos conhecer um pouquinho mais sobre essa brilhante mulher e sobre o belo trabalho que realiza.

Adriana Lage: Soyane, conte-nos um pouco sobre seu trabalho. Você trabalha com outras áreas da educação física ou apenas com a dança?
Soyane Vargas: Sou professora da Fundação de Apoio à Escola Técnica – FAETEC e da Fundação Municipal de Educação de Niterói. Trabalho com dança desde 1984 e, desde 1996, desenvolvo pesquisa e promovo encontros, seminários e espetáculos de dança, além de participar de comissão organizadora de eventos ligados à área da educação inclusiva e educação física. Fui professora universitária na Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) e professora substituta na Universidade Federal Fluminense (UFF) e na UERJ.
Meu mestrado foi na área de dança e ginástica para idosos cegos. Em 2004, fui responsável pela elaboração e execução do projeto Hip Hop na Escola Municipal Paulo Freire, em Niterói/RJ, onde participavam crianças das classes regulares e das turmas bilíngües, ou seja, turmas que tinham alunos e alunas com deficiência auditiva e/ou deficiência múltipla. Por seis (06) anos, aproximadamente, coordenei, produzi e coreografei nos espetáculos do Projeto Dançarte, da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (ANDEF) e fui uma das coreógrafas do Corpo em Movimento.
Atualmente trabalho também como professora de educação física para as séries iniciais do ensino fundamental e como professora de expressão corporal no curso de teatro da FAETEC, ambos em Niterói.
Adriana Lage: De onde surgiu a vontade de ser uma educadora física? Essa profissão é bem valorizada em nosso país?
Soyane Vargas: Minha família sempre valorizou a prática de atividade física. Na adolescência comecei a praticar dança e este foi o primeiro caminho escolhido para atuar como profissional. A educação física surgiu depois em 1986, como uma possibilidade mais ampliada de atuação. Daquela época até os dias hoje, a profissão avançou bastante em termos da qualidade dos profissionais e das pesquisas acadêmicas, mas em relação à valorização profissional não considero que tenha havido avanço significativo.
Adriana Lage: Aqui em BH, sinto falta de bons profissionais da educação física para atender pessoas com deficiência. A que atribui esse fato?
Soyane Vargas: Especificamente em relação à Belo Horizonte não saberia lhe responder, mas pela experiência que tenho, observo que ainda ocorrem muitas dúvidas sobre o “como” trabalhar com as pessoas com deficiência. Alguns profissionais que conheço se sentem incapazes, tem certo receio ou optam por outros campos de atuação, já que a educação física possibilita um ‘leque’ de oportunidades de trabalho.
Adriana Lage: Como a dança surgiu em sua vida? O que ela representa?
Soyane Vargas: Como disse anteriormente, a paixão pela dança surgiu em minha própria família. Para mim a dança representou uma forma de redenção, já que sempre fui uma criança e uma adolescente muito tímida e com baixo autoestima. Por meio da dança, pude me reconhecer como pessoa com potencialidades e limites. E hoje ela representa a possibilidade de criação, expressão de sentimentos, forma de comunicação e oportunidade de inclusão social. E isso é fantástico em minha vida! Agradeço ao amigo Prof. Alexandre Medeiros da UNIVERSO, por ter me dado a oportunidade de voltar a trabalhar com dança, com um salário digno e com excelentes condições de trabalho. Digo que ele foi o grande responsável por reacender essa paixão adormecida em mim, por algum tempo.
Adriana Lage: Assim como no esporte, a dança também traz uma série de benefícios para as pessoas, sobretudo, quando possuem alguma deficiência. Para você, quais são as principais vantagens de uma pessoa com deficiência praticar dança?
Soyane Vargas: Como você mesma descreve em sua pergunta, os benefícios da dança são comuns a todas as pessoas, com ou sem deficiência. Na literatura encontramos muitos exemplos disso. No que tange aos benefícios biopsicosociais, é notória a ampliação do repertório de movimentos; o aprimoramento da coordenação motora e da consciência corporal, além da melhoria da autoestima e da sensação prazer e bem estar dos praticantes. Em recente pesquisa realizada por mim e dois estudantes de educação física da UNIVERSO, a Dayana Santos e o Guilherme Almeida, identificamos os benefícios percebidos pelas próprias pessoas com deficiência, praticantes de dança inclusiva. Foram destacados por eles os seguintes pontos: melhor sensação de bem-estar; melhor relação com o próprio corpo; melhoria no relacionamento social; oportunidade de prática de atividade física, possibilidade de aquisição de conhecimento, possibilidade de profissionalização e realização de um sonho. Foi muito interessante constatar os benefícios da dança defendidos pela literatura existente, através do depoimento daquelas pessoas com deficiência.
Adriana Lage: E as desvantagens? Existem?
Soyane Vargas: Não sei bem se são desvantagens, mas alguns desafios precisam ser enfrentados. Nessa mesma pesquisa identificamos as seguintes dificuldades: problemas relacionados à utilização da cadeira de rodas; dificuldade de apropriação técnica da dança; dificuldade de acesso à instituição; problemas com estrutura organizacional da instituição e incompatibilidades entre os praticantes. Além disso, nem todos os trabalhos são desenvolvidos por profissionais habilitados; bem como, não raro, é desprezado o enfoque na inclusão social, tão importante para esse segmento da população. Dessa forma, os benefícios trazidos pela prática da dança podem ser prejudicados e, até mesmo, comprometer a integridade física das pessoas com deficiência.
Adriana Lage: Todos podem dançar? Por exemplo, sou tetraplégica. Posso dançar? Se sim, como? Existem limites na dança?
Soyane Vargas: Dançar é para todos! Acredito nisso porque a dança mobiliza mais que gestos externos, mas é capaz de mobilizar emoções e sensações internas inerentes a todo ser humano. Além disso, podemos nos expressar de várias formas: através do ritmo respiratório, na forma de olhar, de sorrir ou se emocionar. E mesmo que isso não seja perceptível aos olhos dos outros, pode ser percebido e, principalmente, sentido pela própria pessoa. Experimentar essas sensações é muito importante e pode ser muito prazeroso também! Certa vez recebi uma aluna tetraplégica que, segundo a mãe dela, não reagia a nenhum tipo de estímulo. No entanto, desde o primeiro momento dela em sala de aula, junto com as outras crianças, ela demonstrou entendimento ao seguir minhas orientações com o sorriso e o olhar. Essa reação foi percebida por todos na sala de aula e a mãe se emocionou bastante. Foi maravilhoso para mim também! Por outro lado, sabemos que os limites existem como em tudo na vida, mas as possibilidades podem ser muito maiores.
Adriana Lage: Os profissionais da dança são reconhecidos em nosso país?
Soyane Vargas: Os professores em geral são profissionais pouco valorizados em nosso país, os de educação física e dança não fogem a esta regra, conseqüências do pouco valor dado à educação e às artes de modo geral por nosso sistema político e econômico.
Adriana Lage: Existem competições? Vocês recebem algum tipo de patrocínio?
Soyane Vargas: A competição ainda não é muito meu perfil de trabalho, mas sei que Confederação Brasileira de Dança Esportiva em Cadeira de Rodas promove esse tipo de evento em todo país. E a grande representante dessa modalidade de dança é a bailarina Viviane Pereira Macedo, que é pentacampeã brasileira de Dança Esportiva em Cadeira de Rodas. Entendo que pela beleza e importância da inclusão das pessoas com deficiência através das artes, o patrocínio ainda é pouco expressivo nesse tipo de competição.
Adriana Lage: Em sua monografia, você trabalhou a dança para idosos cegos. Comente um pouco sobre isso. Por exemplo, quais mudanças a dança trouxe para seus alunos?
Soyane Vargas: Minha pesquisa teve como objeto de estudo a comunicação oral do professor, por isto uma preocupação e um enfoque mais didático das aulas ministradas para aqueles idosos. Contudo, empiricamente, percebemos a maior socialização entre eles, além da melhoria da sensação de prazer e bem estar, por meio de relatos informais aos professores. Para os idosos que adquiriram a deficiência visual na velhice, observamos uma melhoria no equilíbrio e na percepção espaço/temporal, para os idosos com cegueira congênita percebemos uma melhoria significativa na condição física deles, já que muitos nunca tinham praticado esse tipo de aula.
Adriana Lage: Caso uma pessoa com deficiência queira dançar, o que deverá fazer? Por onde começar? Quais cuidados devem ter antes de se matricular em uma academia de dança?
Soyane Vargas: Por ser uma atividade física, primeiramente, deve-se procurar orientação médica para saber sobre sua condição de saúde, depois avaliar a acessibilidade do local e, principalmente, saber se lá atuam profissionais de educação física ou dança, habilitados para esse tipo de trabalho.
Adriana Lage: O que mais te traz motivação na profissão? Quais desafios que ainda pretende superar?
Soyane Vargas: Minha motivação é observar o desenvolvimento e a alegria dos meus amados alunos e alunas. Os desafios são inúmeros e diferentes a cada etapa da profissão e a cada nova experiência. Como na vida pessoal, os desafios devem ser encarados com seriedade e superados com ética e dedicação.
Adriana Lage: O custo das aulas de dança é acessível para toda população? Existem projetos gratuitos?
Soyane Vargas: O custo depende da cada local e região, mas em geral, os locais que oferecem dança inclusiva estão vinculados a uma associação do segmento ou a um projeto social e, por este motivo, são gratuitos. Mas, a oferta desses projetos ainda é inferior a demanda de todo Brasil.
Adriana Lage: Como você definiria Soyane Vargas?
Soyane Vargas: Uma humanista convicta que acredita na capacidade de superação de cada um, no valor do ser humano independente de sua raça, etnia, condição socioeconômica e condição física. Uma pessoa que procura superar as dificuldades com o exercício de amor ao próximo e à mim mesma, sem nunca perder a fé em DEUS. Sinto o amor de DEUS em minha vida e, sempre nos momentos difíceis em que mais preciso de apoio, percebo que sou amada por muitas pessoas e que tenho amigos verdadeiros.
Adriana Lage: Qual mensagem deixaria aos leitores da Rede Saci?
Soyane Vargas: A dança pode ser uma deliciosa forma de encontro com você mesmo. Encontre-se!
Adriana Lage: Soyane, você gostaria de deixar algum telefone, blog ou email para contato?
Soyane Vargas: Meu email é soya@oi.com.br e meu blog é: professorasoyanevargas.blogspot.com. Um grande beijo a todos e a todas e obrigada por este prestígio!!!