De
acordo com a proposta coreográfica, aprimoramos a técnica a ser utilizada.
Consideramos um momento importante, que necessita respeitar os níveis de
conhecimento do profissional em relação ao estilo de dança que ele domina e a
técnica específica da dança em cadeira de rodas, que aqui é defendida como um
estilo próprio.
Durante 15 ou 30 minutos, trabalhamos de forma diferenciada de acordo com a
necessidade e potencial de cada aluno/bailarino. É preciso levar em
consideração as habilidades motoras, os conhecimentos prévios, o
condicionamento físico, as características da deficiência e a adaptação do
sujeito a elas, de forma a direcionarmos as propostas eficientemente,
proporcionando um desenvolvimento qualitativo do ser na dança.
Dividindo a turma em grupos pra melhor organização e andamento da aula,
propomos, por exemplo, para os andantes o desenvolvimento das técnicas já
estabelecidas pela dança ordinária (balé clássico, jazz dance, dança
contemporânea, etc.). Desde deslocamentos até giros e saltos, respeitando a
proposta adotada pela turma, desenvolvemos o potencial individual do
aluno/bailarino.
Para usuários de cadeira de rodas, o domínio das técnicas de manejo da cadeira
de rodas é essencial no desenvolvimento da autonomia, diversidade e fluidez
(ALMEIDA, BOMFIM, 2013). Diversas habilidades podem ser desenvolvidas nesse
momento, como: deslocamento para frente; deslocamento para trás; giro
completo; meio giro; 1/4 giro; virar na diagonal; giro em volta;
passar por cima; sair da cadeira; inclinação lateral; empinar
frontalmente e empinar para trás, por exemplo. Podendo utilizar velocidades e
intensidades diferentes, variando os direcionamentos, entre outros estímulos.
Esses exercícios podem ser propostos em correlação com a música, dificultados
com obstáculos e realizados em interação com um parceiro cadeirante.
Enquanto isso, para pessoas com deficiência visual, podemos desenvolver o
equilíbrio e a percepção rítmica através do tato, além de estimular o
desenvolvimento das técnicas já estabelecidas pela dança ordinária com especial
atenção ao desenvolvimento da consciência corporal por meio do direcionamento
oral e tátil.
Dessa forma, buscando os pontos necessários a cada um, podemos seguir
realizando adaptações para pessoas com deficiência auditiva, deficiência
intelectual, idosos, entre outros.
Além dessas propostas por grupo, desenvolvemos momentos de interação,
especialmente em duplas, priorizando as formações de uma pessoa com e outra sem
deficiência, ou de duas pessoas com deficiências/potencialidades diferentes.
Quarta parte: composição
Esta
fase tem por objetivo a utilização da técnica desenvolvida na composição
coreográfica. Ao longo de 15 ou 30 minutos, podemos definir um tema e uma
música/trilha sonora, e a partir das técnicas trabalhadas e as que os
alunos/bailarinos já possuem, buscamos desenvolver uma composição coreográfica.
No processo de composição é imprescindível utilizarmos a pesquisa de movimentos
que comuniquem o tema escolhido, especialmente abrindo espaço para que os
alunos possam explorar suas possibilidades. A interação entre os
alunos/bailarinos também se faz essencial, tanto no quesito espaço e tempo,
como na realização de movimentos em dupla, trio ou grupo.
Juntamente ao processo de composição, definimos os desenhos da coreografia, os
quais devem ser cuidadosamente pensados para que a pessoa com deficiência, em
especial os usuários de cadeira de rodas não sejam encobertos por alunos/bailarinos
sem deficiência, tanto em localização quanto em exibição (performance). Temos preferência por colocar as pessoas com
deficiência em evidência tanto quanto os alunos/bailarinos sem deficiência, sob
a intenção de ressignificar suas relações
sociais e sua presença no palco em equidade. Todos devem assumir um papel
importante na coreografia.
Quinta
parte: finalização
Num
período final de 5 a 10 minutos, objetivamos retornar a um estado fisiológico
mais próximo do repouso, compensando os estresses produzidos durante a aula,
nos valendo de atividades com alongamentos e relaxamento corporal.
É importante considerar que, numa turma de dança inclusiva com cadeira de
rodas, os diferentes sujeitos se valem de diferentes movimentos, culminando em
diferentes esforços e estresses. Sendo assim, precisamos direcionar um
relaxamento que se adéqüe às possibilidades e necessidades corporais de cada
sujeito presente na aula.
Por exemplo, usuários de cadeira de rodas necessitam de maior relaxamento nos
membros superiores e no tronco, em especial, na região lombotorácica da
coluna vertebral, enquanto isso, pessoas sem deficiência podem necessitar de
maior relaxamento nos membros inferiores, e pessoas que utilizam muletas tendem
a necessitar de maior relaxamento na região cervical e dos ombros.
Algumas considerações
Ao longo
desses anos temos conseguido realizar trabalhos coreográficos com qualidade
artística, aprimorando o potencial dos alunos/bailarinos com e sem
deficiências, com grande possibilidade de melhoria da qualidade de vida dos
praticantes. No entanto, encaramos cada aula e cada novo trabalho como um
desafio a ser enfrentado, especialmente por saber que, antes de tudo, lidamos
com seres humanos que são influenciados e influenciam significativamente em
todo processo.
Nossa proposta tem por eixo central a participação em igualdade de condições,
construída a partir da valorização do potencial individual de cada sujeito; ou
seja, valorizando-o numa perspectiva holística, independente deste possuir deficiência
ou não. Com o estabelecimento de cinco (05) partes para o direcionamento do
trabalho, buscamos oferecer subsídios para o desenvolvimento de uma dança que
transcenda propostas com um tipo de deficiência, um nível de habilidade e um
tipo corpo específico, possibilitando a inclusão de diferentes sujeitos na
dança.
Propomos um método sistematizado mas não fechado, (re)construindo-o a partir de
novas experimentações realizadas a cada aula, e a medida que interagimos e
aprendemos com todos.
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